terça-feira, 18 de novembro de 2008

As tais incisões. O que será? Interessante, não é?
Consegue ver alguma coisa? Não? Então veja a seguinte imagem.
A linha indica a gravura. Facto interessante, foi o de aproveitarem algumas partes do painél "gravado" naturalmente. Para quê gravar se já está gravado?

ENCONTROS IMEDIATOS COM O PASSADO

Como o meu horário escolar até é simpático, na sexta-feira, dia 14 de Novembro, tive a oportunidade de fazer mais umas caminhadas pelo rio Sabor. Não muito longe do barulho das máquinas a destruir tudo o que encontram à frente para, um dia mais tarde, nem a oportunidade termos de ver essa destruição, identifiquei num afloramento xistoso vários painéis com incisões de vários tamanhos e profundidades. Noutra ribeira mais a W, identifiquei uma gravura isolada daquilo que me parece ser um auroque. Vou colocar algumas fotos para verem que realmente existem "coisas" interessantes no vale do rio Sabor para se estudar. Sim, porque a partir do momento em que vejo os estudos direccionarem-se para "coisas" que não têm grande interesse... Sinceramente, tenho curiosidade em ler os relatórios relativos a esses estudos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008


Vale do Baixo Sabor. Aqui estão assinaladas as ribeiras(os) mais importantes. A verde, aqueles que poderão apresentar gravuras rupestres. A vermelho, os ribeiros onde já foram identificadas gravuras e a azul é onde está a ser construída a barragem.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Barragem do Baixo Sabor

Num blog intitulado de "Arqueologia", porquê falar sobre a barragem do Baixo Sabor? Bem, na realidade, faz todo o sentido. Parece que este rio já foi prospectado por empresas de arqueologia e até se encontraram uns "sitiozitos" arqueológicos. Se bem me lembro a coisa há-de andar pelos 191, mais coisa menos coisa. Antes de avançar com este tema, é preferível situarmo-nos geograficamente e aprofundar um pouco alguns aspectos relevantes, isto para que não haja confusões. O rio Sabor nasce na serra da Parada (Espanha) a uma altitude de 1600 metros e penetra em Portugal através da serra de Montesinho e a sensivelmente 120 Km, desagua no rio Douro à cota de 97 metros. Portanto, percorre todo o distrito de Bragança (Trás-os-Montes) sentido NE - SW. Em relação às barragens, existe uma mini-hídrica num dos seus afluentes, mais precisamente na ribeira das Andorinhas. É certo que este rio é considerado um rio selvagem, apesar de nele haver perturbação humana, mas onde é que não a há? De facto o Homem, está em todo o lado e raros são os sítios em que este não esteve. Não estiveram lá directamente, mas a acção humana também aí é visível através da poluição, por exemplo. No entanto podemos ver como seria a composição vegetal e animal antes da acção destrutiva do Homem. Se algumas zonas são fortemente agricultáveis (dentro dos possíveis), noutras, o ser humano não o fez e aí estamos a falar de algo natural. Certamente já ouviram falar em biodiversidade e a este respeito, Portugal está incluído numa das 25 áreas onde a eficaz conservação do seu património natural é essencial para preservar a biodiversidade do planeta. Em relação à diversidade de habitats e de espécies vegetais e animais que ocorrem no vale do Baixo Sabor, é importante e apresenta 17 tipos diferentes de habitats naturais. A geomorfologia da região de Trás-os-Montes é constituída, basicamente, por um extenso planalto (e algumas serras) acima dos 600 metros, pertencente à meseta ibérica, cortada apenas pontualmente pelos rios Douro, Sabor e seus afluentes, onde a altitude desce abaixo dos 300 metros. Este facto permitiu o refúgio de um numeroso grupo de plantas e animais, nestes vales, durante sucessivas épocas glaciares. Contudo, esta flora e vegetação particular foi sendo irradicada do vale do Douro devido à construção do sistema hidroeléctrico deste rio. Assim, o vale do Sabor suporta actualmente um grande número de espécies de plantas. Também o homem aproveitou, desde cedo, as condições particulares deste vale, como o demonstram as diversas gravuras rupestres encontradas no Baixo Sabor, datadas do período Paleolítico. A povoação de Cilhades possui marcas de ocupação que remontam à Idade do Ferro e surgem, ao longo do vale, vários vestígios de romanização e medievais. Encontram-se, ainda, alguns marcos históricos da capacidade do povo local de transpor este rio, que apresenta condições torrenciais durante alguns períodos do Inverno, como as Pontes de Remondes e da Portela, notáveis edificações que datam do século XVII. Nas encostas deste vale encontram-se, actualmente, vastas áreas de culturas de olival e amendoal (cerca de 840 hectares só no Baixo Sabor). Assim, a valorização de alguns produtos agrícolas de qualidade poderia juntar-se à crescente valorização e procura do património natural, paisagístico e cultural, permitindo encarar o vale do Sabor numa perspectiva realista de desenvolvimento sustentável. A sua localização próxima do Parque Natural do Douro Internacional e do Parque Arqueológico do Côa poderia ser aproveitada para o desenvolvimento articulado da região baseado no seu património natural e cultural único. Saliente-se que o III Quadro Comunitário de Apoio que prevê a atribuição de fundos específicos para apoio, nomeadamente em locais de comprovado interesse ambiental, a medidas agro-ambientais e ao Turismo no Espaço Rural, que poderão desempenhar um papel fundamental para a fixação das populações locais. Apesar disso, a atitude dos autarcas locais sobre este problema tem sido lamentável, apostando claramente na desinformação da população. Defendem o turismo associado à barragem, quando as grandes alterações do nível da albufeira e as limitações inerentes ao estatuto de ZPE da área impedirão o seu uso recreativo. Propõem a criação de um Parque Natural no Sabor com base na construção da barragem, que irradicaria a maior parte dos seus valores naturais, quando deveriam defender a constituição desse mesmo Parque sem este empreendimento. Defendem o progresso associado à barragem, quando têm na região inúmeros exemplos de barragens que não trouxeram qualquer desenvolvimento, com povoações em desertificação (veja-se, por exemplo, o caso do Pocinho). Dizem que nunca o Baixo Sabor foi considerado importante pela comunidade científica, quando foi a própria Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, paradigma do desenvolvimento da região, que elaborou o estudo da zona e sugeriu a sua inclusão na Rede Natura 2000. Afirmam que o EIA nunca foi contestado, quando vários pareceres negativos foram entregues durante o período de consulta pública do documento. Falam nas vantagens da criação da reserva de água desta albufeira para fazer face a condições de seca e criar condições de regadio na região, quando o uso desta reserva de água se limitará à produção de energia e se encontram já projectadas duas pequenas barragens para a irrigação do Vale da Vilariça. Segundo o EIA, importância energética da barragem do Baixo Sabor é "insignificante a nível nacional". Através do Protocolo de Quioto, Portugal, no quadro da partilha de emissões de gases de efeito de estufa ao nível da Comunidade Europeia, tem direito a uma quota de aumento de 27% das emissões de CO2 equivalente entre 1990 e 2010. De acordo com os estudos desenvolvido pelo Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para o Ministério do Ambiente, se não forem tomadas medidas contrárias, o aumento previsto de emissões de gases com efeito de estufa entre 1990 e 2010 será de 53%. Aquilo que está em causa no Vale do Sabor é a preservação da história e património natural de Portugal e, de certa forma, do nosso planeta. O Vale do Sabor guarda vestígios únicos da memória da evolução da vida na Península Ibérica e desempenha um papel importante para a manutenção da biodiversidade. Cabe-nos, agora, a tarefa de compreender a lição natural que este vale encerra e unir esforços no sentido de conseguir preservá-lo isento de barragens, valorizá-lo, divulgá-lo e utilizá-lo numa óptica de desenvolvimento integrado e sustentado da região. Muito sinceramente, os transmontanos não têm culpa que Lisboa e Porto estejam a crescer e que, deste modo, seja necessária mais energia. Há quem defenda a construção da barragem do Baixo Sabor e há quem não esteja de acordo. Na realidade as pessoas que defendem esta obra não deviam opinar da forma como o fazem porque nunca visitaram o Baixo Sabor e, na pior das hipóteses, nunca estiveram em Trás-os-Montes. Penso que com este texto já se ficou a conhecer melhor este rio e até a região. No texto seguinte falarei de questões que, do meu ponto de vista, serão interessantes aqui abordar.